sábado, 31 de março de 2007

… nem de shorts e havaianas!

Num gesto tão rápido e simples quanto o inserir ‘PNR’ na frame do google que me transportou directamente ao site do partido, pus-me pela primeira vez em contacto com as motivações, abordagens, propaganda política e opiniões dos seus representantes.

Ainda que considere legítima a preocupação com a ascensão da extrema-direita e com o seu acesso às camadas geracionais mais jovens, consequentemente com menos capacidade crítica, julgo que continua a não haver espaço para que esta corrente assuma uma importância significativa.

Num discurso agressivo, ressentido e vitimizante, que faz uso repetido de palavras como ‘inimigos’, ‘lavagens cerebrais’, ‘traidores’, ‘perseguições’, ‘discriminação’, assumem as posições esperadas em relação à família, à economia, à justiça, à criminalidade, à imigração, à segurança, ao trabalho. Parecem ter as soluções para as principais problemáticas sociais, económicas e financeiras do país, os imigrantes, os marginais, os grandes grupos económicos que se vêm apoderando das propriedades do estado…
Quanto ao fazerem de Portugal o paraíso celeste, ficam só dúvidas quanto ao modo… ou nem isso, se for atribuído o devido valor às palavras ou ao ‘tom’ em que se escreve!

Na verdade, a curiosidade que me levou a abrir o site do PNR foi tentar perceber se de alguma forma, depois dos exemplos históricos de ditaduras, os ideais de extrema-direita tinham sofrido algum tipo de adaptação aos tempos correntes no sentido da moderação.

Crédito desperdiçado…Continuam a fazer jus ao nome e assim sendo, confio que, nem a falta de pão a cada vez mais famílias portuguesas, os recolocará no poder.

As necessidades básicas mantêm-se, mas mentalidade da sociedade mudou alguma coisa desde que Salazar ditou em Portugal. Fala-se, concreta ou hipoteticamente, em realidades como ‘despenalização do aborto’, ‘casamento de homossexuais’, ‘adopção de crianças por casais homossexuais’, ‘despenalização de drogas leves’, ‘eutanásia’, que a meu ver, são apenas uma questão de tempo… Caminha-se no sentido da globalização, de pessoas, bens, serviços… Opta-se pelo ateísmo, as uniões de facto, o descomprometimento interpessoal… Ainda se ouve Zeca Afonso!... Jorge Palma, Sérgio Godinho, Da Weasel, Blind Zero…

Um Salazar a governar a geração morangos com açúcar?... Hummmm… nem de shorts e havainas!... :P

quarta-feira, 28 de março de 2007

Extrema Direita

Há séculos que não escrevo, por motivos profissionais (quem bem que isto soa) e por andar a desenvolver a arte de bem ressabiar ao vivo e a cores. O post prometido acerca de regras vai ter de esperar por melhores dias, e já tenho até alguns outros que quereria postar, mas algo lido hoje não podia deixar de passar incólume.

Extrema-direita quer entrar nas secundárias e universidades

Assustador.

Já não nos chegava termos as JSD, JS, JP e JC a tentar minar o movimento associativo, agora também nos temos de preocupar com esses.

Assustador.

Haver gente suficiente que vote em representantes da extrema direita para porem sequer a hipótese de ganharem.

Assustador.

A representante do movimento ser aluna de medicina. Um dia será médica. O que dirá quando tiver de tratar um doente negro, cigano, indiano? Será objectora de consciência? Fará um ensaio clínico?

Assustador

Lido no dia em que ainda estou a digerir e tentar compreender a eleição do maior português de sempre. Ver o nosso antigo ditador eleito, principalmente com os votos das novas gerações, dá-me calafrios. Por muito que estejam desiludidos com o poder instituido, com os actuais partidos, com o estado da nação! Há coisas com que não se brinca. Imaginem o que era um concurso destes na alemanha com Hitler a ser o vencedor. Não me venham dizer que não é a mesma coisa. É exactamente a mesma coisa, mas à escala Portuguesa.

terça-feira, 27 de março de 2007

Histórias de amor e ódio

Pergunto-me o que de magnético existe na ambivalência de amar e odiar alguém, ou amar alguém e odiarmo-nos por isso.

Relações desiguais, em que uma das partes se esgota em favor do outro, na tentativa de lhe proporcionar o melhor ou aquilo que considera ser melhor… um porto de abrigo… conteúdo para um continente de capacidade universal, que se perde no desvario da busca do incógnito, e com isso suga, dia após dia, a seiva que ao outro alimenta o corpo e a razão.

O que faz com que se escolha, a cada momento, ficar junto de alguém que se conhece bem demais e cujos defeitos, numa continuidade indefinida com o feitio, abominam até à corrosão visceral?... O que move o ser humano nestas frentes inglórias de querer contrariar a natureza de alguém no sentido da adaptação social... ou conjugal?

Qual sentimento transcendental capaz de sobreviver à aridez do deserto de cada encontro falhado, ou às intempéries do oceano de lágrimas em cada verdade decifrada na mentira dos gestos?

Conflito insolúvel entre a liberdade do ‘eu’ e a comunhão da pureza de uma aura selvagem, por si só destinada a perder-se na imensidão do sensorial...

segunda-feira, 26 de março de 2007

O Grande Português

1931, o estudante Branco é morto pela PSP, durante uma manifestação no Porto;
1932, Armando Ramos, jovem, é morto em consequência de espancamentos; Aurélio Dias, fragateiro, é morto após 30 dias de tortura; Alfredo Ruas, é assassinado a tiro durante uma manifestação em Lisboa;
1934, Américo Gomes, operário, morre em Peniche após dois meses de tortura; Manuel Vieira Tomé, sindicalista ferroviário morre durante a tortura em consequência da repressão da greve de 18 de Janeiro; Júlio Pinto, operário vidreiro, morto à pancada durante a repressão da greve de 18 de Janeiro; a PSP mata um operário conserveiro durante a repressão de uma greve em Setúbal
1935, Ferreira de Abreu, dirigente da organização juvenil do PCP, morre no hospital após ter sido espancado na sede da PIDE (então PVDE);
1936, Francisco Cruz, operário da Marinha Grande, morre na Fortaleza de Angra do Heroísmo, vítima de maus tratos, é deportado do 18 de Janeiro; Manuel Pestana Garcez, trabalhador, é morto durante a tortura;
1937, Ernesto Faustino, operário; José Lopes, operário anarquista, morre durante a tortura, sendo um dos presos da onda de repressão que se seguiu ao atentado a Salazar; Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, morre em condições suspeitas no forte de Caxias; Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, de Lisboa, Francisco Domingues Quintas, de Gaia, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja, marinheiro, de Castro Verde, morrem no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PIDE (PVDE) durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior, operário do Porto, morre no Tarrafal, vítima das febres e dos maus tratos;
1938, António Mano Fernandes, estudante de Coimbra, morre no Forte de Peniche, por lhe ter sido recusada assistência médica, sofria de doença cardíaca; Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal, morre no Aljube, devido a tuberculose contraída em consequência de espancamento perpetrado por seis agentes da Pide durante oito horas; Arnaldo Simões Januário, dirigente anarco-sindicalista, morre no campo do Tarrafal, vítima de maus tratos; Francisco Esteves, operário torneiro de Lisboa, morre na tortura na sede da PIDE; Alfredo Caldeira, pintor, dirigente do PCP, morre no Tarrafal após lenta agonia sem assistência médica;
1939, Fernando Alcobia, morre no Tarrafal, vítima de doença e de maus tratos;
1940, Jaime Fonseca de Sousa, morre no Tarrafal, vítima de maus tratos; Albino Coelho, morre também no Tarrafal; Mário Castelhano, dirigente anarco-sindicalista, morre sem assistência médica no Tarrafal;
1941, Jacinto Faria Vilaça, Casimiro Ferreira; Albino de Carvalho; António Guedes Oliveira e Silva; Ernesto José Ribeiro, operário, e José Lopes Dinis morrem no Tarrafal;
1942, Henrique Domingues Fernandes morre no Tarrafal; Carlos Ferreira Soares, médico, é assassinado no seu consultório com rajadas de metralhadora, os agentes assassinos alegam legítima defesa (?!); Bento António Gonçalves, secretário-geral do P. C. P. Morre no Tarrafal; Damásio Martins Pereira, fragateiro, morre no Tarrafal; Fernando Óscar Gaspar, morre tuberculoso no regresso da deportação; António de Jesus Branco morre no Tarrafal;
1943, Rosa Morgado, camponesa do Ameal (Águeda), e os seus filhos, António, Júlio e Constantina, são mortos a tiro pela GNR; Paulo José Dias morre tuberculoso no Tarrafal; Joaquim Montes morre no Tarrafal com febre biliosa; José Manuel Alves dos Reis morre no Tarrafal; Américo Lourenço Nunes, operário, morre em consequência de espancamento perpetrado durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa; Francisco do Nascimento Gomes, do Porto, morre no Tarrafal; Francisco dos Reis Gomes, operário da Carris do Porto, é morto durante a tortura;
1944, general José Garcia Godinho morre no Forte da Trafaria, por lhe ser recusado internamento hospitalar; Francisco Ferreira Marques, de Lisboa, militante do PCP, em consequência de espancamento e após mês e meio de incomunicabilidade; Edmundo Gonçalves morre tuberculoso no Tarrafal; assassinados a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha (Benavente), mais 40 camponeses são feridos a tiro.
1945, Manuel Augusto da Costa morre no Tarrafal; Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos, depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo; Alfredo Dinis (Alex), operário e dirigente do PCP, é assassinado a tiro na estrada de Bucelas; José António Companheiro, operário, de Borba, morre de tuberculose em consequência dos maus tratos na prisão;
1946, Manuel Simões Júnior, operário corticeiro, morre de tuberculose após doze anos de prisão e de deportação; Joaquim Correia, operário litógrafo do Porto, é morto por espancamento após quinze meses de prisão;
1947, José Patuleia, assalariado rural de Vila Viçosa, morre durante a tortura na sede da PIDE;
1948, António Lopes de Almeida, operário da Marinha Grande, é morto durante a tortura; Artur de Oliveira morre no Tarrafal; Joaquim Marreiros, marinheiro da Armada, morre no Tarrafal após doze anos de deportação; António Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde 18 de Janeiro de 1934, morre quase cego e após doença prolongada;
1950, Militão Bessa Ribeiro, operário e dirigente do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, durante uma greve de fome e após nove meses de incomunicabilidade; José Moreira, operário, assassinado na tortura na sede da PIDE, dois dias após a prisão, o corpo é lançado por uma janela do quarto andar para simular suicídio; Venceslau Ferreira morre em Lisboa após tortura; Alfredo Dias Lima, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça;
1951, Gervásio da Costa, operário de Fafe, morre vítima de maus tratos na prisão;
1954, Catarina Eufémia, assalariada rural, assassinada a tiro em Baleizão, durante uma greve, grávida e com uma filha nos braços;
1957, Joaquim Lemos Oliveira, barbeiro de Fafe, morre na sede da PIDE no Porto após quinze dias de tortura; Manuel da Silva Júnior, de Viana do Castelo, é morto durante a tortura na sede da PIDE no Porto, sendo o corpo, irreconhecível, enterrado às escondidas num cemitério do Porto; José Centeio, assalariado rural de Alpiarça, é assassinado pela PIDE;
1958, José Adelino dos Santos, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação em Montemor-o-Novo, vários outros trabalhadores são feridos a tiro; Raul Alves, operário da Póvoa de Santa Iria, após quinze dias de tortura, é lançado por uma janela do quarto andar da sede da PIDE, à sua morte assiste a esposa do embaixador do Brasil;
1961, Cândido Martins Capilé, operário corticeiro, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Almada; José Dias Coelho, escultor e militante do PCP, é assassinado à queima-roupa numa rua de Lisboa;
1962, António Graciano Adângio e Francisco Madeira, mineiros em Aljustrel, são assassinados a tiro pela GNR; Estêvão Giro, operário de Alcochete, é assassinado a tiro pela PSP durante a manifestação do 1º de Maio em Lisboa;
1963, Agostinho Fineza, operário tipógrafo do Funchal, é assassinado pela PSP, sob a indicação da PIDE, durante uma manifestação em Lisboa;
1964, Francisco Brito, desertor da guerra colonial, é assassinado em Loulé pela GNR; David Almeida Reis, trabalhador, é assassinado por agentes da PIDE durante uma manifestação em Lisboa;
1965, general Humberto Delgado e a sua secretária Arajaryr Campos são assassinados a tiro em Vila Nueva del Fresno (Espanha), os assassinos são o inspector da PIDE Rosa Casaco e o subinspector Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro;
1967, Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba, more vítima de tortura na PIDE;
1968, Luís António Firmino, trabalhador de Montemor, morre em Caxias, vítima de maus tratos; Herculano Augusto, trabalhador rural, é morto à pancada no posto da PSP de Lamego por condenar publicamente a guerra colonial; Daniel Teixeira, estudante, morre no Forte de Caxias, em situação de incomunicabilidade, depois de agonizar durante uma noite sem assistência;
1969, Eduardo Mondlane, dirigente da Frelimo, é assassinado através de um atentado organizado pela PIDE;
1972, José António Leitão Ribeiro Santos, estudante de Direito em Lisboa e militante do MRPP, é assassinado a tiro durante uma reunião de apoio à luta do povo vietnamita e contra a repressão, o seu assassino, o agente da PIDE Coelha da Rocha, viria a escapar-se na "fuga-libertação" de Alcoentre, em Junho de 1975;
1973, Amilcar Cabral, dirigente da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, é assassinado por um bando mercenário a soldo da PIDE, chefiado por Alpoim Galvão;
1974, (dia 25 de Abril), Fernando Carvalho Gesteira, de Montalegre, José James Barneto, de Vendas Novas, Fernando Barreiros dos Reis, soldado de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, estudante dos Açores, são assassinados a tiro pelos pides acoitados na sua sede na Rua António Maria Cardoso, são ainda feridas duas dezenas de pessoas. Etc Etc

Danos colaterais de um grande português?

sexta-feira, 23 de março de 2007

Uma sementinha de esperança!

Hoje, alguém me acendeu uma luzinha na escuridão do desencanto com o ensino superior, nomeadamente no que é praticado na minha faculdade, que afinal, é o que melhor conheço.

Na sequência da organização de um evento que celebra os 25 anos da respectiva Associação de Estudantes, dirigi uma carta a dois notáveis Professores Doutores desta casa, solicitando sugestões literárias que considerassem marcos importantes na formação pessoal dos seus alunos.

Se a um deles pude observar a expressão de contentamento quando, num casual encontro no bar, lhe entreguei a carta ao mesmo tempo que lhe explicava o seu conteúdo, o outro, duas ou três horas depois de ter deixado a carta com a secretária, o mesmo que levei quase um mês a encontrar quando era delegada da cadeira que regia, ligou-me para o telemóvel manifestando toda a disponibilidade e interesse em participar na montagem da dita exposição. Mais, pedi a ambos uma lista de 15-20 livros, pensando que não seria mau se cada um me indicasse 10, e se um deles me responde que ia escolher 5 lotes de 20 livros, fazendo o respectivo comentário de cada um, o outro, além dos livros também comentados, ofereceu-se para os pedir emprestados a um livreiro amigo.

Não é que estejamos habituados a que os Professores nos fechem a porta quando a eles recorremos. Seria muito injusta se o afirmasse. Mas a verdade é que há muito tempo que não sentia tal entusiasmo e prontidão na colaboração com os nossos projectos, sobretudo quando se tratam de coisas simples e com pouca visibilidade nos meandros fmupianos.

Tenho estado até agora a pensar no distanciamento entre professor-aluno e na impessoalidade da formação superior. Há um sentimento de ‘desencontro’ que parece ser recíproco, um desajuste entre o que procuramos neles e o que eles procuram em nós… Quiçá ambas as partes estejam a ser valorizadas de forma errada: os professores catedráticos, austeros e inacessíveis, que apontam o ceptro e lançam a maldição do chumbo; os alunos desmotivados e imaturos, que ‘só organizam eventos patrocinados pela Super-Bock’.*

Uma simples exposição literária que foi para mim uma sementinha de esperança… :)

* por Professor Doutor H.B. (grrr...)

quarta-feira, 21 de março de 2007

Boas vindas!

Ouvi há uns tempos um prezado psiquiatra da nossa faculdade, da área da psicanálise, a dissertar sobre ‘a mentira’. Distinguiu a mentira sádica, da mentira protectora, e esgotou o assunto a um nível tão basal que realmente mudou a minha visão.

Ainda que a continue a evitar e prefira viver com base em premissas verdadeiras, passei a atribuir-lhe um significado muito mais inocente, um acto muito mais humano do que a própria verdade… a mesma verdade que, no fundo, nunca é absoluta, mas relativa!...

O teu post fez-me pensar noutro aspecto, o da valorização. Talvez entre ‘mentira’ e ‘verdade relativa’ não haja uma distância assim tão grande… talvez se afastem precisamente pelo efeito que produzem na consciência de cada um, ou pela consonância ou divergência de percepções de uma mesma realidade...

Seja muito bem-vindo, Sr. Francesinhus!

terça-feira, 20 de março de 2007

Verdade ou consequência

Há qualquer coisa em mim que me faz detestar mentir. Não que não o faça mas sim que o deteste fazê-lo.
Não sei bem porquê. Nem o sei explicar. Mas hoje uma mentira que disse na recepção do meu ginásio pôs-me a pensar nisso.
Que raio de coisa são estes valores e os contra-valores que nos fazem pensar nestas merdices depois de termos feito tudo mal. E pior, ficamos a sentirmo-nos mesmo mal.
E quem ou o que nos fez não podia ter feito pior (ou melhor na sua imensa óptica)...

Canecos, acho que o caminho para o ateísmo começa mais ou menos assim... E pelo que conheço é mais ou menos irreversível...

segunda-feira, 19 de março de 2007

Aos Homens que um dia serão Pais…

E se há pouco mais de uma semana o dia era d’elas, hoje o dia é, definitivamente, d’Eles!
Os meus sinceros cumprimentos aos Pais e filhos, maridos, namorados, companheiros, amigos, irmãos, primos… que um dia serão Pais! :P
Usando um formato similiar ao do post de 8 de Março, antes de tecer qualquer tipo de comentário, gostaria de deixar uma pequena resenha histórica acerca deste dia. (Para depois não dizerem que eu só pio sobre estatísticas… :P)

Foi em 1909 que uma norte-americana, Sonora Dodd, decidiu fundar um dia para homenagear ‘os pais’, em memória do seu próprio pai, que criou os 6 filhos sozinho aquando da morte da esposa. Este dia foi comemorado pela primeira vez na sua cidade em 1910, mas só foi oficialmente reconhecido em 1972, quando o Presidente Richard Nixon o fez publicar na legislação americana.
Em Portugal, celebramo-lo a 19 de Março, dia de S. José, mas este dia varia muito de país para país em data e significado. No Brasil, África do Sul e Austrália, por exemplo, festeja-se no segundo domingo de Setembro; na Alemanha coincide com o dia da Ressurreição de Jesus Cristo; na Argentina festeja-se no 3º domingo de Setembro; no Canadá e na Grécia celebra-se em Junho, nos dias 17 e 21 respectivamente. Na Rússia, não existe com a denominação de ‘Dia do Pai’, mas como ‘Dia do Defensor da Pátria’, a 23 de Fevereiro.

Voltando à nossa realidade, num presente marcado pelo descontentamento generalizado, até a parentalidade está em crise.
Também, mas não só, consequência das exigências profissionais e materiais de uma sociedade cada vez mais competitiva, a verdade é que os pais se demitem da responsabilidade de educar os seus próprios filhos. E faltam no que mais é básico para o estabelecimento dos alicerces de uma personalidade bem formada: regras, mimo e cuidado (no sentido mais delicado do termo).

A título de ilustração, reparem que as consultas de pedopsiquiatria estão atulhadas de crianças inseguras com alterações de comportamento. Vi tratarem a maioria dos casos de ‘hiperactividade’, que na verdade são mais ‘tentativas para chamar a atenção’, e enurese, com ‘abracinhos de chocolate e de morango 30 min antes de ir para a cama’.
Na porta ao lado, a pediatra da consulta de obesidade infantil não tem mãos a medir. Recentemente puseram duas bandas gástricas a uma menina de 7 anos com 90Kg e a um menino de 13, com 130Kg. Não havia suporte familiar para ajudar aquelas duas crianças a diminuir de peso; estavam já a desenvolver as comorbilidades próprias de ‘adulto’ associadas ao excesso de peso.
Curiosamente, na porta a seguir, na consulta de desenvolvimento infantil, multiplicam-se os casos de anorexias e bulimias nervosas. Segundo a especialista mais graduada da área, aparecem cada vez mais precocemente e a história é muito típica: a menina rechonchuda que tem uma irmãzinha mais nova, por sinal bem mais elegante, com quem os pais a estão constantemente a comparar; o resultado são anorexias gravíssimas a começar aos 8 anos de idade e que se prolongam durante a adolescência, para desespero de todos os que estão à volta.

E isto são exemplos simples que encontro no meu dia-a-dia… Se fosse professora queixar-me-ia que as crianças são cada vez mais imaturas, não têm sentido de responsabilidade e de autoridade, não se interessam pelas actividades… mais do mesmo!!

Termino este post com uma reflexão pessoal… As sociedades equilibradas e auto-reguladas constroem-se, pela modulação das mentalidades e pela estruturação adequada de sistemas de valores. Cabe aos pais (pai+mãe) o papel principal. As escolas, o ATL, a catequese, o karaté, a música, o ballet, ou as mil e uma coisas com que se entretêm os filhos devem ser complementos.
A responsabilidade de mudar os defeitos da nossa geração, no sentido de tornar o mundo melhor, está nos potenciais pais das gerações futuras... que somos nós!

Antes de se matarem a trabalhar para ‘lhes darem tudo’, lembrem-se que os estão a privar do que eles mais precisam…

PS1:. Aos Pais deste blog(uezinho):
- O recado também é para vocês! A criança nem um mês tem e vocês não lhe dão um bocadinho de atenção há dias!! :
Se tiveram tempo para a conceber, também têm que ter tempo para a fazer crescer!!

PS2:. Ao meu Pai:
- És o meu herói! :)

sábado, 17 de março de 2007

Teatro de marionetas

‘Todos numa espécie de mundo hieroglífico. A coisa real nunca era dita, feita ou sequer pensada, mas apenas representada por um conjunto arbitrário de sinais.’

Esta é a realidade social do final do século XIX descrita no filme ‘A idade da inocência’.
Um século depois, sem vestidos compridos de rendas e folhos, sombrinhas, chapéu alto ou jaqueta com lapela, mantemo-nos numa similar realidade de aparências, com ainda menos espaço para a inocência.
O culto do que é popular e do que está na moda, que significa muito mais do que a roupa que se veste, ou a música que se ouve, ou os livros que se lêem ou não, estão a assumir uma importância tão vincada no ‘estilo de vida’ de todos nóes, que indubitavelmente castram a individualidade, a criatividade, a personalidade.
Irrita-me ver toda uma geração ceder ao deslumbramento do que é mais acessório…
Irrita-me ver os meios de comunicação a fomentar a estandardização…
Irrita-me ver pais a educar os filhos no sentido do sucesso material e não no sentido da integridade emocional, racional e moral…
Irrita-me a corrupção das mentalidades com a generalização da conquista fácil, a qualquer nível…
Irrita-me este teatro de marionetas em que constantemente se ouve uma coisa em palavras e se lê outra nos olhares… fingindo-se acreditar…
Irrita-me que a sinceridade e a honestidade, connosco próprios e com os outros, sejam ‘desvantagem’ no fenómeno de selecção natural da espécie humana…

Não é que acredite em mundos perfeitos… nem que sofra de Síndrome de Wendy… Mas às vezes também me sinto um ‘patinho feio’…

Apenas um desabafo...

sexta-feira, 16 de março de 2007

A fuga


quarta-feira, 14 de março de 2007

As bombas relógio

O
Este post aborda uma realidade que pode ser considerada chocante, não aconselhado a leitores mais sensíveis...

Se a consciência do nosso tamanho é importante para que saibamos colocar-nos no respectivo lugar, há instantes que nos reduzem à insignificância…
Senti-o hoje de forma esmagadora, no âmbito de uma consulta de oncologia a que tenho assisto, em cadeira opcional.
Começo por explicar que, no HSJ, a Oncologia é um serviço com algumas limitações, que funciona fundamentalmente em regime de ambulatório e de forma um tanto ou quanto sectorizada. A cirurgia faz uma abordagem do doente; a oncologia dá seguimento aos que necessitam de quimioterapia (QT) ou radioterapia (RT), ainda que a RT seja numa unidade à parte; a consulta da dor é da competência da anestesia. Como podem calcular, por vezes, para não dizer, muitas vezes, tudo isto é de muito difícil integração… Nem o processo do doente é o mesmo!

Tenho visto sobretudo doentes em estado terminal, a fazer tratamento com intuito paliativo ou curativo, com prognósticos muito reservados. Na globalidade, têm sido consultas pesadas, mas pacíficas. Não há 'más notícias' para serem dadas…
Nesta fase, das duas uma: ou o doente, ainda que o pressinta, não tem capacidade racional/intelectual/cultural, o que preferirem, para avaliar a gravidade do seu problema, ou se tem, já integrou o diagnóstico e o percurso da doença, e sabe exactamente o que vai acontecer. Custa mais pelos familiares que se mantêm em estado de negação, insistindo na possibilidade de solução para o companheiro(a), o filho(a), a mãe/pai, que vêem morrer de dia para dia.

Hoje, à chamada do nr.13, entrou pelo consultório um casal de meia-idade. Ambos empresários, classe sócio-cultural bastante acima da média, aspecto muito jovial e uma relação invulgarmente próxima... muito bonita aos 60 anos.
A história da doença é comum. Sintomatologia inespecífica que foi sendo desvalorizada, com 3 meses de evolução, que motiva a ida ao SU e posteriormente o internamento no serviço de neurologia. Estuda-se a doente, e faz-se o diagnóstico anátomo-patológico de ‘glioblastoma multiforme de celularidade densa…’, ou seja coisa muito ruim.
A senhora inicia tratamento sintomático, tem alta para casa e, porque a bolsa o permite, consulta, a título particular, os melhores neurologistas e neurocirurgiões do país. Todos foram unânimes quanto à impossibilidade de recessão cirúrgica, recomendando um esquema combinado de QT + RT urgente e agressivo. Estavam ali por isso…
Aquando da elaboração do plano terapêutico, percebeu-se que iria haver uma divergência entre os timings da QT + RT, pelo tempo que a QT demora a ser autorizada. (É uma medicação de uso exclusivamente hospitalar, que envolve custos muito elevados, e que requer o aval da administração para ser disponibilizada na farmácia).
A burocracia implicada até em assuntos de vida ou morte… grrrr! :S
E perante a astenia física e emocional da mulher, ver aquele homem, contra tudo e contra todos, esgotar-se nos possíveis e impossíveis para arranjar os benditos fármacos para o imediato…que ele ainda não sabe que não são uma cura...

O cenário rebateu cá dentro… Além de tudo o resto, deixou-me pensar nas bombas relógio que há em nós, determinadas desde que nos formamos como ovo e que, nesse momento, disparam em contagem decrescente, alheias à identidade, à lista das boas acções, ao estatuto social ou à carteira.
A natureza impondo a sua SOBERANIA. Apenas nos permite interceder na velocidade dos ponteiros…
Uma ‘bofetada de luva branca’ na forma de 'cavalo de Tróia' a um ser que se julga de razão superior…

segunda-feira, 12 de março de 2007

O efeito borboleta

O caos… Número infinito de sinais que lemos e armazenamos no fundo do iceberg sem codificar. Cada olhar desviado, cada gesto captado em câmara lenta em unidades de tempo, cada sorriso escondido, cada rubor mal disfarçado, cada passo inseguro, cada acenar desajeitado… A verdade de nós, e dos outros em nós, que guardamos no lado de lá do ‘eu’, sem saber. Espaço interdito por ordem de um juízo superior, só acessível quando docemente adormecidos. Lei de sobrevivência connosco próprios.

Teia gigante de comunicação estabelecida em séries de 2 pontos, cada eu e cada tu, em transmissão constante e recíproca. A minha verdade relativa que é mentira absoluta. De novo, o caos…
Ping-pong de significados e significâncias que inexplicadamente se traduzem na dor das vísceras ou em gestos requintados, impulsivos, pressentidos, intuídos.
Actos… Actos palpáveis que materializam resultados de equações de que não conhecemos fórmulas nem premissas. Actos, julgados pela razão, a nossa e a dos outros, que sentencia pesar ou recompensa.

O caos… O caos de ti para mim, que me faz sentir, em verdade relativa, as tuas dores e as tuas recompensas. O caos de mim para ti, que ao sabor da aleatoriedade dos significados e significâncias, nos coloca mais longe ou mais perto.

Dejá vu…

Os fantasmas

Na negritude de um eclipse lunar, enregelado pela frieza do teu olhar e na distância dos tempos finitos prostei-me na letargia que protege e consome com a rotineira preguiça de (sobre)viver a estes teatros mundanos onde só me resta demitir-me de ser eu próprio e entregar-me à pequenez do sucesso de barba feita, esquecendo o meu egocentrismo sofrido e vendendo a minha alma a uma plateia de claps-claps onde insuflarei de nada o balão do meu ser. Olho à volta e só se vislumbra a pequenez e fragilidade humana fantasiada nas roupas da moda, nas gravatas vaporizadas e na altivez dos saberes livrescos. Pelo meio sentem-se as dores pré-cordiais das somatizações alheias. Perde-se a distância gestaltica tão útil quando se assume o papel de observador também designado de peter pan por uns e moicano por outros. Daqui apenas vos vejo como velhos do restelo que à distância vêm a nau na partida, cheia de miudos sem destino certo nem batalhas travadas, nem estórias de conquistas mas que, quer queiram quer não, já partiram. E os velhos deixam de sonhar, deixam de acreditar e rendem-se à artralgia da idade. Por cá, como moicano, exigo-lhes os impossíveis e dou-lhes as piores das piores ressabiadelas. Mas sei que para eles as propinas é o que aljusbarrota foi para nós. Uma data, um momento na história. Algo que entre 2 episódios do tom sawyer foi notícia num qualquer noticiário e que, algures na sua juventude, ouviram falar. O mesmo com as manifs. As manifs fazem-se quando se sentem. Não é quando um qualquer jovem associativo desempregado pretende um pouco de microfonia televisiva para o garante de um pão futuro. Acho muito bem que a geração string não ceda a qualquer preço. No seu dia eles sairão com as suas lutas e as suas guerras. Eu próprio cedo momentaneamente à tentação da crítica fácil e à comparação dos tempos distintos. Felizmente há um peter pan dentro de mim. É esse peter pan que me deixa soltar o sorriso malandro e me aproxima da inocência dos strings, me devolve a esperança de mudar o mundo e os faz deixarem-me dar uma volta na nau que é deles volta e meia. E assim, meus correligionários, vos deixei a pregar aos peixes, vociferando impropérios ressabiados num cais qualquer e voei por aí.

PostScriptum: Os putos estão bem. Compraram cuecas novas. Já não usam o astrolábio. Agora têm GPS. É só modernices. O sexo é muito libertino. Agora é mais complicado beijar uma gaja que dar uma queca.. Coisas do tempo.

domingo, 11 de março de 2007

moicanos

há uns anos atrás, num estabelecimento de diversão nocturna da invicta cidade, um amigo de velhas lutas disse-me depois de uma discussão do estado da nação, vulgo fmup: "eu sou o último dos moicanos", man "I am the last of the moicans". ao que eulhe disse com uma entoação à Mário Soares "olha que não, olha que não".
Hoje, já algum tempo passou e pensando bem nas coisas, ele tinha mais razão do que eu pensava. Não que seja ele o verdadeiro último, porque para mim, o adjectivo tem carácter plural e aplica-se a um ambiente vivido e não a uma pessoa, mas de facto, a esperança que eu tinha que as coisas não piorassem (já nem digo melhorar) está cada vez mais, à semelhança da colega alter ego, a desvanecer-se.

Pergunto-me se, daqui por uns anos, quando passar de visita no nosso 01, sentirei nostalgia pelos tempos vividos, e pena por já não poder fazer parte daquele ambiente, ou simplesmente tristeza por ver tudo "por água a baixo".

Desde que a medicina se tornou o "sonho" de 70% dos papás e mamás de todo o país para o seu filho que a nossa faculdade sofreu um processo de mutação que embora não seja visível a olho nu mudou completamente o "modus vivendi" no nosso 01.

Quando eu entrei, e antes de mim ainda mais, não era precisso ter 20 de média de secundário para entrar, aliás, ninguém tinha. Isto porque, salvo raras excepções é impossível um adolescente ter uma prestação tão regular que lhe permita ter 20 do 10º ao 12º. antes, a malta tinha média de 18 ou 19 no secundário e tirava 18 ou 19 nos exames. hoje tem média de 20 no secundário e tiram 16 nos exames. Paralelamente cresceram externatos e escolas do género e o extrato social médio do estudante de medicina mudou. antes havia malta das terrinhas, filhos de imigras que, sem explicações nem 30 livros de química e biologia, a levantar-se às 6 da matina para ir apanhar o autocarro para a escola que era na vila a 25 quilómetros de distância, lá conseguia a custo entrar na faculdade. e era esta malta que dava algo mais de si à faculdade. para já, não moravam com os pais, o que lhes dava uma liberdade considerável, e depois, dado que só iam a casa de fim de semana de longe a longe, sentiam maior necessidade de se ligar a algo, de se "comprometer".

pois, esse estrato ainda existe mas se fizessemos um estudo demográfico veríamos que decresceu uns 500% nos últimos 10 anos.

hoje abunda o menino da cidade, cheio de explicações e carro descapotável aos 18 anos, corta o cabelo por 10 contos tem todo o tipo de acessórios electrónicos desde miudo. o verdadeiro p***as, salvo raras excepções.

e que é feito da gaja com buço? despenteada a estudar como uma louca na sala de estudo por livros emprestados que não há dinheiro para mais?

que é feito das pronuncias mais estranhas que, sendo fonte de alguma chacota, não deixavam de ser uma manifestação da diversidade culturall do nosso país?

que é feito dos gajos que baixaram as calças naquela célebre manifestação?

Onde é que estão os "cojones conho?"

secalhar eram moicanos...

O ‘umbilicocentrismo’!

Pois é, no fundo não deixa verdade que grande parte da crise no Ensino Superior se deve aos alunos.
O que se está a passar em relação às cadeiras opcionais na nossa faculdade é absolutamente vergonhoso. A selecção faz-se com base na que permite passar mais despercebido, para nem sequer implicar a apresentação ao serviço.
E realmente, esta é a prova mais que provada, que o ensino superior não pode ser confiado à responsabilidade individual de cada aluno querer terminar uma licenciatura bem formado. Lamentável, porque nos conduz ao ridículo do controle por cadernetas (grrrr) e afins… E eu que sempre defendi que no ensino universitário nem sequer faltas devia haver!! Crente, né?

Nesta altura, feliz ou infelizmente, ingressar no ensino superior é quase um dado adquirido no percurso escolar de qualquer criança.
Se me oponho a isto, não é por questionar capacidades, mas sim algo bem mais determinante da postura perante tudo na vida: vontade, melhor, vontade própria! Porque agora aos 18 anos ainda se é uma criança e como tal, lá estão os papás a decidir pela cabeça dos filhos.

Já na faculdade, tudo isto só vem acrescer à massa amorfa que se têm vindo a tornar os estudantes universitários, cada vez mais indiferenciados não só do ponto de vista técnico/científico, como também do ponto de vista académico, moral, valorativo.
No último ano do nosso curso só vejo as pessoas entusiasmadas com 2 coisas: estudar o Harrison e a roupa do baile de Finalistas. Quais RGAs, cursos extra-curriculares, bailes de máscaras, festas de curso?

Por outro lado, o desaparecimento do espírito grupal, da solidariedade pelo parceiro do lado, do nobre gesto de se ‘atravessar por’ e de se ‘atravessar com’. Ao longo do curso vai-se cultivando o ‘umbilicocentrismo’!
Se chegados ao 4ª ano o fenómeno ‘curso’, cada vez mais dissolvido logo à partida, tende a desaparecer com o regime de blocos, o fenómeno ‘turma’ segue o mesmo caminho chegados ao 6º ano, com o regime profissionalizante.
Espere-se até que a média de curso comece a contar como critério de acesso a uma especialidade. Nessa altura, liquidam Associação de Estudantes, Grupos Académicos e Comissões de Curso, que ainda assim, vão dando algum dinamismo àquela casa.

Foi o compromisso que se perdeu’. Foi, todos eles, todos os compromissos que são supostos estabelecer, a começar nos que devemos a nós próprios.

A poucos meses do fim, sinto que não mais queria ficar. Pelo que vejo nos corredores 'acizentados' do Piso 01 do S.João, melhores tempos NÃO VIRÃO!

UM IMENSO POST CHEIO DE NADA
...

o livro e a internet

Poderá a Internet substituir o livro? Muitos afirmam que estamos na sociedade do conhecimento, que as tecnologias da informação vieram trazer o conhecimento globalizado. Não falo do conhecimento técnico mais específico, porque esse sim está mais divulgado, falo daquela cultura geral que faz as pessoas ganhar um “quer quer ser milionário” ou “1 um contar todos”, ou mais simplesmente ter um "tête à tête" mais refinado.
O tipo de conhecimento que qualquer Dr., vulgo licenciado, devia possuir. Como irmão mais novo herdei do meu irmão, além das roupas e da mobília do quarto, uma mão cheia de livros da década de 80, seja de ficção como "os 5 de Byron" (pessoalmente sempre preferi o nacional e consequentemente a obra de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada “Uma aventura”) como de temática geral, um género que não sei descrever muito bem, (secalhar porque já não se edita) mas que tratava de uma forma não muito pesada, própria das enciclopédias, de questões mais ou menos importantes para a formação pessoal. Lembro-me perfeitamente do nome dos meus preferidos: “Resposta a Tudo.”
Se bem que almejava mais do que era possível para duas centenas de páginas, ainda hoje quando raramente vou de fim de semana a casa, os encontro no quarto e lhes dou uma vista de olhos para refrescar a memória,p.e, agora que está em voga, quais eram as sete maravilhas do mundo antigo.
Penso que este tipo de livro, especialmente importante na adolescência, morreu. E a internet, embora com um potencial muito maior, tende a ser utilizada para uma pesquisa mais dirigida, deixando para segundo plano aquilo que ninguém se lembra de procurar mas que permite aos ditos cujos de ganhar umas massas no quem quer ser milionário.
Para além disso o livro tem algo que a internet nunca terá, que é a capacidade de se fazer ler, mesmo quando não nos apetece muito, enquanto a internet nos desvia facilmente para sites "menos fidedignos".
. Haverá quem ganhe um concurso deste tipo daqui a 30 anos?
Estarão os tête a tête mais refinados condenados a ser substituídos pela discussão e apreciação da discoteca do momento?

Como? Determinantes da cultura brejeira?

Caro Robs, venho por este meio dar-lhe as boas vindas, visceralmente revoltada com as suas declarações no postsobre as calças de cintura baixa’ (grrrr...).
A ‘cultura brejeira’ é realmente um legado Tuga imemorável. Recorda-me a imagem de meia dúzia de cavalheiros em volta de uma mesa na taverna da aldeia, a jogar uma suecada, com os respectivos bagaços ao lado, e a comentar os atributos da apresentadora do programa da TV.
Pois é, mas desde o tempo da TV a preto e branco, muita coisa mudou… pelos vistos, não em todos os sentidos!
Obriga-me a relembrá-lo que a grande maioria dos alunos a frequentar o ensino superior são mulheres, além de se estarem a afirmar a olhos vistos nos cargos directivos, administrativos e políticos. Se calhar, meus caros, deviam perder menos tempo a reparar nas 'calças de cintura descida'
E quanto à cultura brejeira, tenho a dizer-lhe que é única e exclusivamente da responsabilidade de quem a põem em prática!

Não se ponham a pau, e depois digam que a culpa é do string

sábado, 10 de março de 2007

sobre as calças de cintura baixa

quem diz que as mulheres não são os maiores determinantes da cultura? não a cultura profissional, mas a cultura brejeira que se aprende em cafés e tertúlias mais ou menos etílicas

Se tiver que escolher algum acontecimento marcante da minha adolescência e da sociedade em geral ele é sem dúvida a generalização do uso das calças de cintura baixa pelos elementos do sexo feminino da nossa sociedade.
de facto, muita coisa mudou. não sei se fui eu que cresci muito nessa altura, mas de repente os temas de conversa passaram a ser mais restritos. não se percebe, mas o futebol, a mega drive e o celerom 100o mghz.
de repente, toda a gaja que antes parecia fora do baralho passou a ser sofrível, uma espécie de valorização instantânea só possível como verdadeiro toque do "nip e do tuck" ou do "doutor preciso de ajuda".
e com isto tudo muda, a percentagem de glúteos alvo de reflexão por parte da companhia passou a ser tão grande que parece que já não havia tempo para falar de mais nada.
e apesar de já se passarem alguns anos sobre o sucedido, os mais velhos ainda não conseguiram eskecer o que foi o desaparecimento das Levis 501, heavy e as míticas city jeans, e o aparecimento desta nova forma de custura.
enfim, parece que se mantém mais sensíveis ao velho "sofrível".

tb os penteados artísticos vieram aqui a ter um papel fundamental. Mas aqui o pior aconteceu! alguns dos que, desde novos se habituaram ao velho corte de escovinha, adoptaram este estilo proveniente da mulher pós-moderna...

Mas a riquesa cultural das conversas masculinas ainda sobreviveu até que um duro golpe as matou de vez. O String...
ai tornou-se impossível conversar sem distracção. a mais séria discussão tendia a ser interrompida por uma fisga mais descuidada que, além de interromper o raciocínio cortava todo o ambiente de seriedade e passava, instantaneamente, como uma moção em assembleia geral, a ser o assunto de imediato.

e depois o apareco«imento das macro-discotecas, onde não se fala nem se faz nada...mas e porquê? porque há o estigma. gaja que se preze não se deixa sacar numbarzeco da ribeira...náaaaa.
disco, que tem muit mais stile e é como nos filmes de adolescentes

geração sem nódoas negras

é de mim ou a geração pós sam (a mascote dos jogos olímpicos de 1984) é uma geração mais fofa, assim a modos que um bocado frágil, diria até em certos casos mais "abixanada"?
mas o k mudou? o pool de genes portugueses sofreu uma mutação devido ao buraco do ozono? não me parece...
não me lembro no meu tempo, de opuvir falar em violência gneralizada nas escolas, nem em taxas de insucesso escolar como as de agora, nem em professores espancados.
é certo que nem toda a gente estudava, e os que ficavam de fora eram sem dúvida os mais desfavorecidos que são tendencialmente, embora nem sempre assim seja, os menos formados.
quando andei na escola primária, se fosse mal educado "levava uns bolos" e calava-me e se refilasse mais levava mais e assim sucessivamente até não aguentar de tanto "bolo" levar.
na decada de 80 se os nosso pais fossem chamados à escoal era porque tinhamos armado da grossa e ao chegar a casa já se sabia...
hoje, os putos refilam e furam pneus, são mal educados e destroem. e não falo das questões de gangs e por aí fora, porque esse é um problema sério e crescente que não tem resolução fácil. mas no interior não há gangs e o problema é real.
se os pais são chamados à escola vão mas é defender o seu filhinho e se for preciso dão eles o exemplo e insultam o professor na mesma moeda.
hoje, ninguém deve nada a ninguém. temos todos muitos direitos e inclusive o direito de não ter deveres. parece que os direitos são absolutos mas os deveres relativos.
e isto já se nota no ensino superior.
"temos o direito a mais e melhor" e quando for preciso dar o c* para lutar pelo que quer que seja tá-se mas é bem na cama a dormir. ou no café a fumar um cigarro com estilo que isto de andar na rua faz frio.
ainda me lembro de uma manifestação a que fui a lisboa ainda me tempos em que não estava ligado ao associativismo. propinas, prescrições e paridade.
na altura tinha sido um "baconal" no dia anterior e os autocarros saiam da feup lá pas 10 da matina. impossível pensei quando me deitei alcoolizado às 7. No entanto, a persistência de um colega mais responsável no dia anterior (por sinal hoje a pessoa sem a qual não aceitaria qq candidatura - olha lá coincidência) me levou a vestir o traje e ir pa lisboa.
autocarro - 5 pessoas da fmup. à ca..lh! que somos muitos...e la fomos, dois trajados e 3 não trajados (olha outra coincidência - que mais tarde eramos a lista da praxe e eles não)
e então, o fim do mundo que foi o aumento das propinas com aprovações em AG de vandalizar as caixas multibanco da reitoria e por aí fora...teve como expressão numa manifestação 10 000 estudantes de todo o país...do país? só no porto somos 60 000. e numa manifestação depois deste clima todo tem 10 000 estudantes? quantos da Universidade do Porto? alguns, mas não assim tantos.
e o resto?
10 % queria ir mas não teve um amigo a xatear.
10 % queria ir mas não ir a lisboa era mto longe
10% ficou no café a fumar cigarros e a discutir o problema
10% não ia se não tivesse aulas e faltas.
59% ca.ou simplesmente

nessa mesma manif o Eng. Sócrates passou a 1 metro de mim a rir-se quando se ia embora da assembleia. deve ter gostado de uma manif quando era ele da oposição na altura.
este ano os cortes orçamentais vão levar ao aumento das propinas, mas de manifs, não me parece.

Os altos quadros associativos custumam dizer k a luta de rua foi substituida por um aluta de gabinete, que as coisas mudaram, a malta é mais responsável, está mais informada.
Concordo, mas isso não é a causa de não haver manifs, é a consequência, pk já se sabe que se há k contar com a mlata pa ir pa rua mais vale tar quieto que ainda se apanha mas é vergonha.

enfim, há k ter em conta tb o papel do apareciemento das calças de cintura baixa nesta problemática...

ainda o princípio de Peter

E lá estamos nós a criticar e a ressabiar contra os Prof. Doutores. Embora possa concordar com o que os ilustres colegas dezem, não me parece ser esse o grande problema que nos assola e nos leva, pelo menos a mim, a ressabiar.
O problema está na juventude e no futuro que nos aguarda. a propósito do modo licela das assinaturas e do ano profissionalizante concordo contigo, não é esse o modo de ensinar em Universidade.
Contudo, atenta à seguinte questão que mostra a necessidade de se proceder aum controle tão rigoroso, sob pena de o ano nem ser profissionalizante nem ser absolutamente nada.
Em meados de 2005, com o início do ano profissionalizante, foi negociado um protocolo entre a FMUP e o INEM para que os alunos do 6 anos pudessem fazer estágios de 2 semanas no dito instituto durante os períodos dedicados às opcionais.
O INEM, estrutura de uma organização notável, entendeu que a assinatura desse protocolo não pressupunha só a disponibilidade para receber alunos "de vez em quando" mas que, com datas marcadas e preparadas, iria estar preparado para receber os 6 alunos, integrando-os nas suas actividades e disponibilizando recursos humanos para tal.
Pois bem, acontece que há já 2 "blocos" que o INEM está um pouco zangado porque, ao que parece, os alunos que se comprometem a ir, não são de uma assiduidade questionável, levando ao natural desperdício de recursos de uma entidade que assinou tal protocolo como acto voluntário.
Há uma natural crise de valores na nossa juventude. A mim, que não sou transmontano mas minhoto, que é parecido sempre me ensinaram que não quebra um compromisso porque sim, e se as coisas correm mal, somos sempre os últimos a quebrar.
de facto, o que se assiste hoje em dia nas camadas mais jovens é a um fugir de responsabilidades que, ao que parece, se pode justificar com os actos menos correctos do hirarquicamente superior. Não que seja o caso do INEM mas imaginemos que eles até eram antipáticos.
Para muitos isto é um motivo para não por lá mais as "patas" porque a "mim ninguém me fala assim.
para mim, a função da geração jovem é ser um motivo de mudança, projectar a sociedade de amanhã. mas parace que o k está a dar é fugir pk não se gosta.
ainda me lembro, quando há alguns anos era caloiro de vários grupos académicos.
Como é obvio houve muita "mer.." que não me caiu bem, muitas vezes em que achava que o grupo não funcionava bem, etc...
Contudo sempre aceitei para que, um dia mais tarde, pudesse ser eu a mudar alguma coisa. Que moral teria eu para criticar se fosse embora a fugir a sete pés?
Estranho que, hoje em dia, a muitos ( e eu tb) dos que como eu criticaram (alguns k sairam, outros k ficaram) os vejo cometer alguns dos mesmos erros que no pssado nos tiravam o sono.
estranho tb, que numa altura em k tudo é mais fácil, principalmente a comunicação, se comunique menos, pelo menos em qualidade.
não sei, parece que se perderam alguns valores do passado, como a amizade e o gosto pela mudança.
mas sobretudo o compromisso, esse é k se perdeu...hoje em dia parece k há sempre uma desculpa para tudo...

Error 404

Não! Este não é o blog que vai salvar o mundo. Não! Este não é o blog que vai acabar com o aquecimento global, a fome em África, os choques frontais no IP4, as gajas feias, os agentes da GNR, o refluxo gastro-esofágico ou com a gripe das aves. Não! Sim! O nosso alter ego de serviço sofre do síndrome de Wendy (essa mesmo, do Peter Pan). Sim! Também não seria alter ego se não o fizesse. Sim! Quer agradar a todos, mudar o mundo e não espelha o mais pequeno defeito. Sim! Ontem adormeci tão cedo que nem o bife comi. Proteínas provavelmente que vão terminar num qualquer contentor do lixo e que poderiam ter alimentado toda uma nação. Não me sinto pior por isso, simplesmente adormeci. E adormecer adormecemos todos. Lamento as durezas das estatísticas mas somos demasiado pequenos para podermos fazer algo. A verdade, provavelmente, é que se todos tivessemos à escala planetária, o estilo de vida dos nossos alteres egos, com os seus gastos de gasóleo e o seu consumo proteíco, os nossos recursos esgotar-se-íam em 5 anos e o cataclismo anunciado ocorreria. Estes nossos destinos e fados, há muito que estão traçados. A verdade é que o freddy pediu um post XXX e, no pornógrafo que há em mim, atormentado por esta lesão herpética que me consome o lábio superior nas proximidades da comissura esquerda, me pergunto: Tipo 1 ou Tipo 2? A verdade é que as fronteiras geográficas do HSV há muito que se encontram esbatidas nas consumações kamasutrianas a que todos nós vamos cedendo com o preço da sua reactivação primaveril. É esta sim a grande bandeira do Ressaibo! Lutaremos contra as infecções herpéticas como senão houvesse amanhã! Curioso este mundo ocidental onde o aciclovir é anúncio de televisão (já repararam no fenómeno do marketing de timing acertado?) e onde uma caixinha genérica custa 1 WC (lê-se whisky-cola)..

'8 ou 80' – Capítulo I

Inicio hoje a série de posts ‘8 ou 80’, que versarão sobre as assimetrias mundiais, tema que me inspira particularmente ao ressaibo.
A propósito da publicação da lista dos mais ricos do mundo, na revista norte americana Forbes, decidi escrever um post sobre os que têm tudo e os que nada têm.
Não é que o estilo ‘reportagem’ seja o meu preferido, pelo contrário. Mas estes são temas demasiado cruéis, que fazem histórias para não adormecer*, em que os números falam por si!

E dizem os números, que neste planeta com aproximadamente 510 milhões de km2, com 6,6 biliões de pessoas vivas (início de 2007), 2% da população reparte 50% da riqueza mundial, ao mesmo tempo que 50% da população mundial se governa com 1% da riqueza mundial. Avaliando essa distribuição por zonas geográficas, verifica-se que 90% da riqueza total se concentra na América do Norte, Europa e países da Ásia, na costa do Pacífico. (in documento elaborado pelo Instituto Mundial de Investigação do Desenvolvimento Económico, da Universidade das Nações Unidas).

Da ‘listagem’ que motivou este post, interessa salientar que este ano há mais 153 milionários que em 2006, parcela que foi recorde absoluto neste ranking. Os 946 ‘tios patinhas’ possuem, em conjunto, a módica quantia de 2.700 mil milhões de euros, ou seja, mais 35% do acumulado em 2006. O top 5 ou top 10 consultem, se quiserem, no jornal.

No extremo diametralmente oposto, 1 em cada 6 pessoas no mundo vive com fome. Morrem 100 mil pessoas por dia de subnutrição ou consequências, das quais 40 mil são crianças.

Fiz as contas…Nos 365 dias do ano morrem, então, 36.500.000 pessoas vítimas de carências alimentares. Se os 2700 mil milhões de euros dos 946 ‘tios patinhas’, fossem distribuídos pelas 36.500.000, cada uma herdaria nada mais nada menos que 73.972,60 euros/ano, o que perfaz uma mensalidade de 6.164,38 euros.
Como 6.164,38 euros é muito mais do que o necessário para viver em condições de dignidade humana, a conclusão é que bastava que os ‘tios patinhas’ riquíiiiiiiiiiissimos fossem apenas ricos, para não haver vítimas da fome. Decerto que ainda sobravam uns trocos para investir na saúde, na educação, em habitações, em acessos, e nos milhares de coisas que faltam às sociedades subdesenvolvidas.

À luz destes números, qual Declaração Universal dos Direitos Humanos?

Estes são cálculos de secretária. Têm apenas valor de aproximação, mas ainda assim impressionam.
Parece que também aqui estamos ‘num beco sem saída’. Como em quase tudo, uns mais que outros. Já não há somas ou subtracções que reponham a justiça…

Ó Deus, não podias ter feito melhor as contas?...

PS- A cada 5 segundos que demoraram a ler este post, morreu uma criança com fome...

* ‘Histórias para não adormecer’, por Fernando Nobre, Presidente da AMI.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Homenagem aos 'Patinhos Feios', sem rosa ou vinho do porto…

Parece que sim… parece que hoje o dia é d’Elas. Como já foram consagradas ‘as filhas que um dia serão sogras como as mães’, sobretudo as ‘que têm boas mamas, bom rabo e carinha laroca’, faço eu a homenagem às restantes. Sempre tive um carinho muito especial por ‘patinhos feios’…

Antes de tudo, gostaria de deixar algumas considerações históricas sobre este dia.
Diz a lenda do Dia Internacional da Mulher que surgiu na sequência de uma greve, realizada em 8 de Março de 1857, por trabalhadoras de uma fábrica de fiação ou por costureiras de calçado. Ainda que veiculada por muitos órgãos de informação, não tem qualquer rigor histórico. Sendo uma história de sacrifício e morte, cai bem como mito.Em 1909, um grupo de mulheres socialistas norte-americanas reuniu-se numa jornada pela igualdade dos direitos cívicos, que estabeleceu criar um dia especial para a mulher, que nesse ano aconteceu a 28 de Fevereiro. Ficou então acordado comemorar-se este dia no último domingo de Fevereiro de cada ano, o que nem sempre foi cumprido.A fixação do dia 8 de Março apenas ocorreu depois da 3ª Internacional Comunista, com mulheres como Alexandra Kollontai e Clara Zetkin. A data escolhida foi a do dia da manifestação das mulheres de São Petersburgo, que reclamaram pão e o regresso dos soldados. Esta manifestação ocorreu no dia 23 de Fevereiro de 1917, que, no Calendário Gregoriano (o nosso), é o dia 8 de Março. Só a partir daqui, se pode falar em 8 de Março, embora apenas depois da II Guerra Mundial esse dia tenha tomado a dimensão que foi crescendo até à importância que hoje lhe damos.A partir de 1960, essa tradição recomeçou como grande acontecimento internacional, desprovido, pouco e pouco, da sua origem socialista.’

A 8 de Março de 2007, a condição da mulher é muito diferente em países desenvolvidos e países em desenvolvimento. E porque este é um blog para ressabiar e reflectir, não poderia deixar de abordar a temática da ‘violência contra a mulher’.

Ocorre das mais variadas formas, de acordo com a idade e a região do globo, sobretudo por razões culturais e religiosas. Contam-se as agressões durante a gravidez, gravidez sob coacção, discriminação em direitos e oportunidades, privação de alimentos, aborto selectivo por sexo, infanticídio feminino, abuso físico e emocional, assistência médica negligenciada, casamentos combinados, mutilação genital, abuso sexual, prostituição, homicídio.Segundo estudos da Unicef, “No mundo faltam cerca de 60 milhões de mulheres, que foram abortadas por serem seres femininos, assassinadas quando bebés pelo mesmo motivo ou morreram vítimas de maus tratos”.

Nas sociedades ditas desenvolvidas, já não faz sentido falar de desigualdade de direitos e oportunidades. Mantém-se o grave problema da violência doméstica, de que as mulheres ainda são as principais vítimas.
A título de exemplo, na União Europeia, estima-se que 1 em cada 5 mulheres é vítima de violência do companheiro masculino, mas alguns estudos indicam que esta percentagem seja da ordem de 1/3. Destes, apenas 5% dos casos são denunciados.
Segundo o Conselho da Europa, “a violência contra as mulheres no espaço doméstico é a maior causa de morte e invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 anos, ultrapassando o cancro, acidentes de viação e até a guerra”. Cerca de 25% de todos os crimes violentos foram praticados por um homem contra a sua mulher ou companheira.
Em Portugal, os números têm vindo a aumentar: 11.162 queixas em 2000, 12.697 queixas em 2001, 14.071 queixas em 2002 e 17.427 queixas em 2003. Destas, mais de 61,5% são retiradas e apenas 6,6 seguem os trâmites legais previstos.

Além dos diversos programas desenvolvidos pelas autoridades policiais e judiciais, outros serviços públicos e de solidariedade social e mesmo ONG’s e instituições privadas têm prestado um bom serviço no sentido de informação, protecção, apoio psicológico, social e jurídico, acolhimento temporário das mulheres e filhos em casas abrigo. Ainda há muito a fazer!

Homens deste mundo e arredores, se gostam de mulheres, olhem-nas, não de cima… não de baixo… mas DE FRENTE!

Perdoem-me ‘as princesas’… hoje, sem rosa ou vinho do porto, eu presto homenagem ‘aos patinhos feios’…

Um dia ainda vais ser tão sogra como a mãe

Diz que é delas o dia. Não indiferente à ausência de notícias mais interessantes ou novidades de relevo, permito-me, em nome do team Ressaibo, fazer aqui a justa e ressabiada homenagem a "Elas". A "Elas" mães, tias, primas ou avós mas sobretudo a "Elas" filhas, na certeza que um dia, também "elas" serão tão sogras como as mães. A "elas" mas a "essas" em particular, que no belo e tímido despontar do sol primaveril tripeiro, não deixaram de nos brindar com ousados decotes ainda que, confesso eu, esteja um frio considerável e o ranger de dente seja indisfarçável com o mascar da chiclete. Detesto femininismos. É uma forma de machismo transsexualizado, que perde desde logo a classe do "coçar a micose", "falar de gajas" ou todos os trejeitos e brejeirices que nos tornam Verdadeiros Machistas ainda que, rumo à consumação, qualquer bom machista não deixe de puxar a cadeira para a "Senhora" ou "abrir a porta da viatura" ou pagar a conta do jantar. É o suposto. E contra supostos não há grandes argumentos. Esta é a parte que "elas" gostam de qualquer verdadeiro machista e que, romanticamente, classificam de gentleman, como que pedindo desculpa a si próprias pela incoerência. Faça-se então a festa. Celebrize-se o Dia internacional da mulher: comprem uma garrafa de Porto e uma rosa. Vão ver que o dia acaba numa noite ainda melhor. E sim, se o dia é delas, ressabia-se com "elas"! Quais florzinhas de estufa desprotegidas e intocáveis? E pior que "elas" só mesmo as mães! Como dizia o saudoso Carlos Paião: "porque é que as filhas trazem mãe? Defeitos já a filha tem!"

quarta-feira, 7 de março de 2007

Tudo

Do latim totu-, pronome indefinido invariável, a totalidade das coisas ou das pessoas, a soma das partes.
O tudo que é nada, perdido na imensidão do tempo e do espaço, da matéria e da anti-matéria, que esgota só de pensar. No trapézio, equilibram-se o caos, o movimento, o tempo, a relatividade, a gravidade, o electromagnetismo, o divino, num bailado comum de avanços e recuos, aproximando o tudo do princípio ou do fim... Qual princípio? Qual fim?
Pare o tempo e faça-se a foto? Nada apanhado pelos flashes… mistura abstracta de preto e de branco, sem significado.
O tudo que à, nossa escala, se limita à sensação de existir… Realidade corpórea ou ebriedade da mente? Unidade fragmentada e dispersa pelos diferentes ‘egos’… na ponta do iceberg, o que é captado pelas percepções e sentidos; na sua profundidade, o resto…
Tudo e nada… realidades infinitas que não podemos conceber, ou que se extinguem na nossa concepção?

Tanto para dizer tão pouco…

terça-feira, 6 de março de 2007

Liderança ou o Princípio de Peter – Uma aplicação prática

Ainda que tenha estudado a lição sobre o Princípio de Peter, parece-me que a prelecção com que fomos contemplados neste blog, foi mais que esclarecedora e, como tal, passo directamente ao motivo deste post! A bem dizer, uma tarefa bastante facilitada pelo facto de incompetência em organizações burocráticas hierarquicamente estruturadas não faltarem por aí!
E não indo mais longe, centrar-me-ei no meu dia-a-dia, enquanto aluna de uma faculdade da Universidade do Porto, que tem a particularidade de estar inserida numa instituição ainda maior que é o Hospital de S. João (HSJ) (a título de curiosidade, fiquem sabendo que o orçamento do HSJ é tão grande quanto o da Câmara Municipal do Porto… incríveis os gastos implicados na saúde!).

Sem mais delongas, contava-me ontem um colega sobre uma ‘pequena quezília’ com um Exmo. Professor Doutor desta casa.
Terminado um módulo de uma das cadeiras de 6º ano, fazia-se a reunião de apreciação dos trabalhos escritos nas cadernetas, que, a meu ver, são absolutamente liceais e tornam um ano ‘profissionalizante’ na ‘maratona pela assinatura’. Note-se ainda para entendimento deste caso, que a classificação (nomeadamente passagem e reprovação) do aluno se faz mediante as presenças, listas de gestos, entrevistas ou outro tipo de trabalhos escritos, que depois de revistos, terão que ser assinados pelo respectivo tutor.
O aluno, um puro transmontano habituado à rudeza da frontalidade, por sinal um verdadeiro inadaptado ao sistema, de forma um tanto ou quanto ingénua, questionou o Exmo. Professor Doutor quanto à disparidade da organização daquele módulo e o modelo de funcionamento que lhe tinha sido explicado no início do bloco pelo responsável máximo da cadeira. (Entenda-se, para os que não estão familiarizados com esta nomenclatura, bloco = cadeira e módulo um compartimento do primeiro).
A páginas tantas, palavra puxa palavra, o Exmo. Professor Doutor, habituado à ribalta dos programas televisivos onde também aí dá ares de mestre, topo da pirâmide daquele serviço, irado com o confronto de uma entidade hierarquicamente superior, declara-se muito sentido com a indelicadeza do aluno e, amuado, recusa-se a assinar-lhe a dita cuja.

Quem conhece a figura em questão, rapidamente concorda que este, à semelhança de tantos outros Exmos. Professores Doutores, a quem recresce doutrina em detrimento de Liderança, seja da regência de uma cadeira ou de um departamento hospitalar, é não só um exemplo de alguém que subiu os degraus da pirâmide até se vir a tornar incompetente, como também alguém que se julga verdade absoluta… pelo menos dentro das paredes que limitam o ‘seu território’.

A história termina de uma forma muito pouco apropriada para ambos. O aluno, entre a espada e a parede, a pedir desculpa, ainda que não soubesse muito bem porquê, para obter a assinatura. O Exmo. Professor Doutor a fingir ‘condescendência’ em assinar, ainda que, segundo AS REGRAS, e porque o aluno tinha cumprido todos os requisitos exigidos, estivesse obrigado a isso… certamente, NÃO PELAS AS SUAS REGRAS…

Nada

Quem disse que um post tem que ter um tema? Um assunto? Uma reflexão ou uma certeza indubitável? Pois bem, este post é sobre o "nada". Sobre esse imenso tema, "nada" se sabe nem se consta que sobre ele existam muitos princípios erguidos o que não é, convenhamos, de particular bom tom. Fala-se de tudo. Todos têm uma opinião sobre qualquer coisinha por mais pequena ou comezinha que o seja. Pois bem, eu cá tenho muitas convicções sobre "nada" em particular e é sobre ele que vos venho falar. O "nada" não consta que comece em parte alguma ou tenha algum santo padroeiro, limita-se a povoar o absurdo dos tempos com a plena certeza que no seu antípoda se ergue o tudo poderoso. Esse ser que se acerca das coisas e se impõe no infinito dos espaços numa imensidão incomensorável. E sim, continuarei a não fazer parágrafo. Desenganem-se os que pensam que me vergarei às suas estéticas onde a febrícula do dedilhar se subjuga à maquivelica e pensada arte de embelezar o texto com o primir do "enter". E não, não há aqui hiperligações nem dessas mariquices que um texto é para ser lido de fio a pavio. Não é para quebrar com visitas a páginas de qualidade duvidosa. Querem isso? Vieram ao post errado! Neste post a internet acaba em si mesma! Posta-se à medida que se sente. E eu sinto fortes dores viscerais, psicossomatizando a derrota azulibranca e as dores de se ser enganador. Há sempre almas que se desbridam à mais pequena brisa, quanto mais à violência de um furacão. Sinto-me sempre culpado. Atenuam-me as penas com promessas de reinserção social mas eu nunca acreditei no "sistema". Já nem sei sobre que se escreve por cá...AH! é sobre nada afinal. E ficou tanto por dizer...

segunda-feira, 5 de março de 2007

Direito ao Usofruto Proibido, mas com consentimento informado, livre e devidamente esclarecido…

Começo por elogiar a forma brilhante com que o amigo, Kemoressabe, ressabiado por natureza e de excelência, respondeu ao que considero ser uma pequena ‘provocação’.
Ao contrário do que possa parecer, não pretende ser uma missiva feminista, nem o declarar de uma guerra de sexos, de que nunca fui adepta e que não seria nada inteligente neste contexto, nem sequer um discurso moralista ou hipócrita de negação da minha própria génese.
Ainda que me tenha centrado na descrição da evolução do papel da mulher na sociedade ao longo deste último século, não me viu a tomar qualquer partido quando me refiro aos ‘jogos de sedução’.Deduziu-o, bem como muitos outros significados deixados nas entrelinhas. Surpreenda-se, ou não, com a minha concordância com cada palavra que escreveu sobre este tema, à excepção de uma ou outra ideia que os outros egos (o ego, que experiencia a realidade em si mesmo, e o super-ego, o repressor) não me deixaram filtrar…
‘Quem come quem’, é uma expressão antiga que traduz, de forma muito pitoresca, o círculo que se estabelece entre quem come e quem é comido. Ainda que todos reclamem para si o mérito de ‘comer’, a verdade é que, neste jogo, ninguém sai a ganhar ou a perder.
O objectivo do meu ressabio não se dirige ao acto em si, mas antes no modus operandi, que espelha bem o sistema de valores de uma geração. Se não, veja-se, por exemplo, a quantidade de palavras, cada uma mais oca que a outra, que foram introduzidas no português coloquial, umas estrangeirismos, outras meramente adaptadas, para dar resposta às modalidades mais vanguardistas de relacionamentos.
Discordo quando afirma que foram as mulheres que ‘chegaram a um beco sem saída’. O tal sentido presumido de ‘direito ao usufruto proibido’, que tão bem descreveu, colocou-nos a todos numa situação que não sendo melhor, nem pior a de há umas décadas atrás, em que sobejava aparência em cada passeio de braço dado entre marido e mulher, é-lhe quase diametralmente oposta.
Perdeu-se a confiança, a palavra, a tolerância... As relações tornaram-se inseguras, ansiosas, dependentes, absolutamente sufocantes, e como tal, cada vez mais frágeis. Não se preserva o espaço individual de cada um, pelo contrário, entra-se no ridículo da marcação cerrada, ‘espiando’ as sms, as chamadas telefónicas ou o correio electrónico, para não falar das perseguições pedestres ou automobilísticas… enfim, uma panóplia de atitudes doentias e muito pouco dignificantes que, se não fossem diariamente constatadas, não seriam acreditadas!
Esta já é a realidade dos nossos dias, mas acredito que ainda há espaço para quem opte por um estilo quer mais conservador, quer mais alternativo... algures no meio do nada, numa ilha ou praia deserta.... :P
O que virá depois?
Permita, a esta Alter Ego, um ressabio de (in)consciência… por não o sentir…


... e amigos como dantes!... :)

Artiodáctilos

Lá longe, nas estepes asiáticas, subsistem cerca de 1000 dromedários de espécie única em liberdade. Os restantes, perante as pressões demográficas vigentes, foram sendo domesticados pelas populações locais. O camelo bactriano estará na origem do outro camelo, tão nosso conhecido, o camelus dromedarios que pulula desertos africanos e as terras mouriscas e os reconhecidos maços de Camel. Nas longínquas estepes habitou também em tempos o Equus przewalskii, famoso cavalo das mongólias. Ambos, num ecossistema frágil e agreste, foram subsistindo. Até à quase extinção do primeiro e aniquilação natural do segundo. É curioso pois que o honroso primeiro comentário deste blog tenha vindo de terras tão longínquas quanto Pequim. Mais curioso é que o nosso ilustre visitante se dê pelo nome de Deserto de Gobi. Era nesse impraticável cenário que os 2 supracitados resistiram até à exaustão. Mas também nele, em tempos idos, no seu próprio deserto, divagaram cavalgando livremente ideações ressabiadas e libertárias até que, sujeito às pressões da perenidade do tempo ou ao tic-tac do spread bancário, elas se foram extinguindo. No seu deserto vislumbrara um óasis onde beberia com as duas mãos cheias de nada as fúteis glórias terrenas. Agora, com espanto e alguma sobranceria, pergunta-se como o disco ainda toca o mesmo ritmo, esquecendo-se que uma grafonola velha é muito diferente de um cd regravável ao som do hit do momento. Fica a esperança, agora que o belo przewalskii é extinto, que pelo menos ainda exista um camelo dentro de ti.. Deserto de Gobi!

Um abraço.

inicio

pois, isto é bem mais complicado do que parece. conta pra aqui, conta para ali. definitivamente não estou no meu território. enfim, a ver o que sai desta ideia, que nasceu, seguno o criador, do facto de eu não ter um blog.

Fiquei muito contente com o post do princípio de Peter. Se bem que não o entendi assim, à primeira vez que o li.

Da primeira vez li a frase, sugerio-me o senhor peter que somos todos incompetentes no posto que ocupamos durante um período de tempo compatível com o "subir na hierarquia".

Isto porque, se não o fossemos, estaríamos já noutro patamar. E, da mesma maneira se aplica às profissões liberais. O empregado de balcão do Mcdonalds já está no seu limite de incompetência, porque senão já seria gerente....etc. etc. etc.

Não penso assim como é claro, mas a verdade é que a incompetência não pode ser vista como algo de absoluto, é sempre relativa e todos, nós somos, relativamente incompetentes...Incompetentes por falta de saber, incompetentes por preguiça, incompetentes por más escolhas.

a verdade é que a habilidade de esconder essa incompetência é que varia muito de caso a caso e penso que a versão "No desempenho de funções progressivamente complexas, todo o individuo tende a ser promovido até um nível no qual não consiga esconder convenientemente a sua incompetência"

Repare-se que num sistema de pirâmide, o número de pessoas ou bens sob administração de determinado individuo tende a crescer com o grau de hierarquia, pelo que, falta esclarecer qual a principal fonte que contribui para que este seja tido como incompetente. A complexidade crescente das tarefas ou a maior exposição do seu trabalho?

Não sei. No fundo, não podemos acreditar muito no que o senhor Peter diz, caso contrário chegamos facilmente à conclusão que somos todos incompetentes, e por muito que isso possa ser verdade, prefiro baixar o cuttoff-point da curva e acreditar que a maior parte de nós é competente...à sua maneira

domingo, 4 de março de 2007

O Direito ao Usufruto Proíbido

Permita-me, senhor Alter Ego, que venha por este único meio comunicar-lhe o meu desacordo com as palavras que V. Exa. neste blog postou. O comportamento humano, fantasiado carnavalescamente por córtices associativos, tem como pedra basilar o que de mais animalesco por aí existe. A negação desta génese, que das suas palavras se depreende, corresponde à mais pura das hipocrisias mas também não se esperaria outra coisa de um AlterEgo funcionante onde neste "outro eu" dois princípios batalham selvaticamente: o racionalismo a que se obriga e o empirismo experimental do dia-a-dia onde vai beber as suas sábias palavras. A verdade é que, desde sempre, o homem (masculino ou metrossexual apendiçado) preferiu o usufruto da forma ao explendor do contéudo. No vislumbre da fêmea, endereça o seu olhar para o rosto (avaliando a dimensão das maxilas e mandíbulas excluíndo algumas pelo ar masculinizado), mamas (para amamentação) e quadris (avaliando os diferentes diâmetros, seleccionando as pelves ginecóides que permitam um parto tranquilo). Pouco lhe importa a profissão ou estatuto profissional, o grau académico ou o Quociente de Inteligência. Assim surge o Paradigma da Gaja Boa (PGB) vigente desde tempo imemoriais. Diz-se daquela com "boas mamas, bom rabo e com carinha laroca". Impõe-se a tónica na forma e ao seu Usufruto temos direito. Mais a mais, quando são elas a instigarem o que demais primitivo existe em nós apendiçados, senão deleite-se a apreciar a calça de cinta descida, o top rasgado da moda e toda a panóplia de pendericalhos (qual faisão a pavonear-se) com que se nos aparecem. E nestas coisas, ou comem todos ou há moralidade. Negar o PGB com as recentes conquistas femininas (quantas delas não terão sido feitas na horizontal..) é a prova provada que as mulheres se encontram num beco sem saída. Alcançaram o poder mas continuam a produzir-se respondendo ao secular impulso da procriação e maternidade e, às páginas tantas, desconhecem se o conquistam por mérito ou pelas frutuosas formas. Por aqui, não moralizarei por não ter moral. Mas também defenderei o direito ao usufruto.. especialmente o proíbido!

Liderança ou o Princípio de Peter

"Em um sistema hierárquico, todo funcionário tende a ser promovido até seu nível de incompetência"

Embora em brasileiro, esta definição do Princípio de Peter (PP) espelha bem um problema regular da nossa função pública, ou administração central. E como o peso do Estado é enorme, a quantidade de incompetentes é incomensurável.

Durante estes anos, estive em contacto próximo, sobre alçada de, chefiado, gerido, liderado, por muitos administradores públicos. Durante o tempo de faculdade, cada regente era o líder da sua cadeira, do seu departamento. Cada órgão de gestão com o seu líder com poderes quase descricionários. No hospital, cada director de serviço, departamento, ala ou enfermaria é (ou devia ser) um líder.

A escolha de líder em Portugal, pelo menos na função pública, espelha bem o PP. Para regente de uma cadeira, costuma ser escolhido o gajo com mais artigos publicados, o gajo cientificamente mais produtivo, desde que com os cabelos brancos suficientes. Terrivelmente, isto é um tiro no pé. Chefiar o que quer que seja obriga a perder tempo com papelada, com burocracia, com reuniões, com o staff. Deixa-se de poder investigar, produzir ciência. Cabelos brancos (pelo menos muitos) provoca uma perda acentuada na capacidade de lutar, de intervir. Um bom investigador está habituado a estar horas e horas sozinho com o seu microscópio, com os seus ratinhos, com os seus manuais, com os seus papeis. Não está habituado a ser a força motriz de uma equipa multidisciplinar. Está habituado a ser o orador, e não o ouvinte atento das opiniões, desabafos e problemas da sua equipa. As competências de liderança são francamente diferentes das competências de investigação, de docência.

Nos hospitais passa-se o mesmo. Para directores, vão os médicos conceituados, velhos, que já não tem mão para operar. Sem dinamismo. Sem capacidade de consensualização. Citando a Dama de Ferro 'O consenso é a negociação da liderança'.

É completamente diferente uma equipa dizer que trabalha com que uma que diga trabalha para. A primeira é muito mais eficaz, muito mais produtiva. Líder ouve os colaboradores, leva os colaboradores às conclusões e orientações que quer. Chefe manda e pronto. Sem explicações de porquê.

Quantos líderes temos nós na nossa função pública?

Desde o porteiro ao director de escola, toda a gente se habitua ao poder descricionário. Quem selecciona quem pode entrar ou não numa urgência hospitalar? Até à bem pouco tempo eram os porteiros. Estilo discoteca.

Este ressabio pode parecer ter muita coisa nas entrelinhas e pouco 'à vista'. É isso mesmo. Quando se tem um chefe descricionário e não um líder, é preciso falar nas entrelinhas.

Seguindo o mesmo tema das entrelinhas, o capítulo seguinte será 'Regras... Um meio ou um fim?'

Quem come quem?

Ainda que precise de ‘muita sopa’ para chegar ao nível dos ilustres Ressabiados deste blog, não tenho resistido a mandar uns bitaites… :P
Com este meu ‘ressabiozinho’ desvio-me um pouco do que parecia ser a linha temática das intervenções… mas como este é um blog ‘com estrutura horizontal e espelhado na mais pura das anarquias’, aqui vai…

Durante este último século assistiu-se a uma mudança muito significativa no que diz respeito ao casamento e aos valores familiares, fundamentalmente motivados pela viragem do papel da mulher na sociedade. Dos factos históricos envolventes, destaco a emancipação feminina, que atingiu o auge por volta dos anos 20; a publicação da lei do divórcio, no decreto de 3 de Novembro de 1910; o declínio do poder da Igreja Católica na sociedade desde então.
Mulheres a trabalhar fora de casa (e cumulativamente dentro dela, na maioria dos casos), a frequentar universidades (1ª mulher licenciada em Portugal a 1913), a casar e a ter filhos mais tarde, e… a ressabiar! A posição masculina, essa manteve-se mais ou menos inabalável até às últimas décadas, altura em que efectivamente começou o boom cor-de-rosa a nível profissional, administrativo, político, académico...

Protela-se o abandono do ninho dos pais, adia-se o casamento e a parentalidade. Em contrapartida, os relacionamentos interpessoais são mais permitidos e mais permissivos. O casamento, que simbolicamente é uma aliança eterna, ‘na alegria e na tristeza, na saúde e na doença’, está condenado a uma esperança média de vida de cerca de 10 anos, e tem vindo a ser preterido pela união de facto.

As modalidades de relações a dois são cada vez mais diversas e existem para todos os gostos. Abstenho-me de as descrever. Fá-lo-ia por defeito… decerto que muitos tipos me ultrapassam em imaginação.

Fala-se em evolução das mentalidades… Um pretexto como outro qualquer! Aceito-o, desde que na presença de maturidade, vontade, respeito e verdade. Desta forma, acredito que todas as relações possam ser boas.
Na prática, observam-se, cada vez mais, jogos de sedução, ‘pelo prazer de jogar’, que roçam no que de mais biológico, para não dizer animalesco, há no ser humano. Machos encantados por contornos e formas, consumando o legado genético de disseminação da espécie; fêmeas tentadas por promessas, na forma de poesia ou prosa, sms ou msn, seleccionando o progenitor que mais lhes convém.

Que mais dizer desta tendência ou moda ‘canibalesca’, em que anda ‘meio mundo a comer outro meio’?


… a falta que o lado esquerdo faz…

sábado, 3 de março de 2007

O Ressaibo

A título de apresentação, a criação deste blog surgiu no dia em que descobrimos que um dos nossos colaboradores não tinha ainda um blog. Ainda por cima, um gajo que emigrou momentaneamente, num programa de Erasmus (e toda a gente sabe que um blog faz parte do curriculum obrigatório de um Erasmus), para terras inimigas. Criámos-lhe o seu próprio espaço (que não tem tido grande sucesso) e surgiu a ideia de um blog comunitário da malta (passo o pleonasmo).

O nome escolhido, é um 'plágio autorizado' de um neologismo usado por uma amiga minha, boa ressabiadora, justificado pelo facto de ressabio ser uma palavra com muito pouca sonoridade (e muito de lisboeta) que não transmite o sentimento inerente à arte de ressabiar. Ressaibo soa muito mais áquilo que fazemos. Fica uma palavra, sonoramente, quase tão boa como badalhoca (que para mim é a palavra portuguesa que melhor exemplifica sonoramente o seu significado). Honra seja feita à Joana Xixona.

Sobre os intervenientes iniciais, somos todos uns ressabiados de primeira, leia-se gajos com um espírito crítico atroz, (quase) sarcástico, que não nos inibimos de ser a voz discordante em qualquer boa discussão. Mas as agruras da vida, as responsabilidade e os cargos de liderança obrigaram-nos a refrear a arte de bem ressabiar. O ressaibo. E vai daí, sentimos a necessidade de arranjarmos um espaço onde possamos esplanar a nossa arte, sobre a sua forma escrita. É certo que um bom ressaibo deve ser presencial, pois a arte contempla expressões faciais e tons de voz, ou mesmo gestos cuidadosamente escolhidos (como o dedo do meio levantado). Mas foi o que se arranjou. Com as novas tecnologias, com o avanço da banda larga, pode ser que o próximo projecto seja um audioblog ou mesmo um videoblog. A ver vamos.

Como bons ressabiados que somos, obviamente que precisávamos de arranjar (ou pelo menos tentar) uma voz dissonante dentro de nós próprios, alguém que ressabiasse conosco pelos nossos próprios Ressaibos. E daí vir o convite para a nossa alter ego. Ressaibo é obviamente negativo (assim é que tem piada), ressaibo de ressaibo (dupla negativa) é positivo. Criámos um áman (sem agá).

Numa sociedade que se pauta pela falta de responsabilização, pelo autoritarismo, pelo laxismo, material para ressabiar não vai haver falta.

Anuncio já o tema de arranque para o meu 1º post não apresentativo - Liderança, ou o príncipio de Peter.

Que é do feito doS ladoS esquerdoS?

Numa altura em que se elevam os padrões de competitividade em quase todas as áreas, em favor do status social, riqueza, beleza, fama, deixa-se pelo caminho a excelência e a arte. Perdeu-se o amor às causas e valores mais altos se elevaram: o Porche estacionado à porta de casa, a gargantilha de ouro branco ou a casa de férias no Algarve.
Não vou falar da má prestação dos altos dirigentes da nação, do incumprimento da política do e para o povo, do favorecimento dos grandes grupos económicos e acentuação das mais que conhecidas assimetrias entre os muito ricos e os muito pobres, da desumanização da função pública, da má gestão dos serviços sociais, do mau funcionamento da saúde, da educação e da justiça… Essa é uma discussão de longa data, vulgar, explorada e re-explorada, muitas vezes manipulada pela comunicação social para vender mais papel.
Hoje o alvo sou eu, és tu, e é o anónimo do dia a dia: o padeiro, o carteiro, o polícia, o empregado de balcão que nos serve o café todas as manhãs, o funcionário da caixa de supermercado, etc, etc, etc.

Depois da ‘imagem’ panorâmica, foco-me no particular…
O que é que cada um de nós faz para mudar as manchetes dos jornais? Minorar a indiferença, a desigualdade social e de oportunidades, a violência, a fome, o abandono, a corrupção? O que é que cada um de nós faz para ser melhor para o outro, aquele Zé que nunca vimos mais gordo, que provavelmente nem sequer voltaremos a ver e que não nos dará nada em troca? Quando vamos ter noção do nosso tamanho, darmo-nos aos que fazem o nosso dia-a-dia e que atribuem sentido às nossas vidas, os que consomem o que produzimos, os que nos fazem levantar da cama todas as manhãs?
Que é feito do nosso lado esquerdo, aquele que nos torna mais humanos e transforma bons técnicos (técnicos de educação e pedagogia, técnicos de saúde, técnicos de leis, técnicos de contas), em bons profissionais (educadores/professores, médicos, advogados, gestores)?

O lado esquerdo… o dos sentimentos, da intuição, da criação, da percepção emotiva e subjectiva. Ainda que do ponto de vista neuroanatómico seja uma afirmação controversa, sustento-a no pretexto de que os hemisférios cerebrais controlam os hemicorpos contralaterais. Outros motivos de ordem anatómica se prendem com esta associação. O coração, simbolicamente ‘o motor da vida’ e o ‘órgão das paixões’, ainda que posicionado bem a meio do peito, bate mais à esquerda que à direita.

Li, há pouco, um artigo num jornal diário sobre ‘a inteligência do coração’. Destacava os resultados de um estudo americano segundo o qual a inteligência emocional (‘capacidade para expressar e manejar os sentimentos’) é tão importante como a inteligência cognitiva e académica, para o bom desempenho e produtividade.
Há vontade de incluir este critério no recrutamento de profissionais. Um pequeno passo para uma grande mudança…
Eu e tu, quem constituirá a população activa das próximas décadas, tem a responsabilidade maior!

Frente mais inglória…

sexta-feira, 2 de março de 2007

L'etat d'art ou como Ipodias fazer melhor

Sem mais delongas, explique-se que "ressaibo" designa a nobilissima arte de ressabiar. O termo é pela primeira vez auscultado por senhor tripeiro de olhos abertos em pleno exercício da arte algures na capital do Império. Não se reconhecem primogenicidades no seu emprego mas há quem diga que a arte terá nascido com D. Afonso Henriques em dia de má fortuna quando exclama um sonoroso "Que me quedo ressaybiado con usted, mama". Numa língua que se quer viva ou morta o ressabio evolui e surge mestiçado na língua árabe como Al ressahabiad durante as birrices afonsecas. Uma arte com génese norto-galaica que se dissemina por esse mundo fora ou então um descontentamento descontente que surge no norto-galaico que há em cada um de nós. A arte evolui, surge a revolução francesa, russa, americana, das colónias, pensadores, filósofos, políticos e não fazedores de nada em particular ressabiam com arte e alguns com engenhos. Ressabia-se. Ressabia-se com o que não se sente.
Até ao presente. Acomodados ao rendimento mínimo dá-se por garantida a desnecessidade de ressabiar. Vivem-se tempos de morangos e sobremesas que desvalorizam valores ou sentimentos e a arte desvanece nos tempos mortos dos néons apelativos dos centros de comércio onde compras a efemeridade estandardizada e te vendes à massificação da estatística. Enebriados com a luxuria de playstations, habituam-se gerações herdeiras de uma tradição de bem ressabiar a receber tudo como dado adquirido, como se o que nos é imposto não fosse passivel de discussão ou ressabio ou de, pelo menos, uma pequena reflexão de espíritos que se querem críticos. E assim vão eles. Carneiros alinhados, phones do ipod nas orelhas, calça da moda ou top bem recortado... E podias fazer melhor...

quinta-feira, 1 de março de 2007

Prefácio

“You can run, but you can’t hide…”

Foi de forma muito inesperada, que ‘dois gajos feios’, mas definitivamente com muita pinta, me informaram, repito, ME INFORMARAM, que a partir de hoje integrava o clube d’Os Ressabiados. ‘Convite de uma figa’, porque rapidamente me passaram a batata quente com a indicação: ‘trata de tudo’.
Por isso, antes de me apresentar e de apresentar este blog, gostaria desde já de reivindicar o seguinte: um blog comunitário com um regime de gestão horizontal, espelhado na mais pura anarquia de Pierre-Joseph Proudhon (1809 - 1865), pautado pelos princípios de igualdade dos sexos… e das raças*, apartidarismo, arreligiosidade… e todos os outros ‘a-…’ que dão moral a um ‘Ressabiado’ para ressabiar!
Como não me foram dados quaisquer esclarecimentos sobre o funcionamento deste blog, vou ter a presunção de definir o que julgo que serão os seus objectivos (insurjam-se contra isto se bem o entenderem… ou então, da próxima vez, expliquem!!!). É um espaço de discussão livre e descomprometido, sobre todos os temas possíveis e imaginários (oh pessoal, olhem lá o nível… há que manter a compostura!!), e não sujeito a qualquer tipo de censura.
Perfeito?? Nãaaaaoooo… até agora, quase perfeito! Falta acrescentar que acolhe de braços abertos todos os que nele se quiserem expiar, com a promessa de que serão ouvidos… Realço ‘ouvidos’ e não compreendidos! Depois não venham exigir mais do que a que têm direito!!
E assim nasceu esta criança… Na verdade, eu só assisti ao parto. A fecundação e germinação do dito cujo vão ter que ser os papás a contar. Sim, porque fiquem desde já a saber que aqui o catraio resultou de uma destas relações modernas, ainda não percebi se a 2 ou se a 3, e como, tal, tem dois ou três pais e nenhuma mãe. Pormenores práticos não sei… perguntem a quem de direito!
Designaram-me a ‘alter ego’ (= outro eu). Como não poderia deixar de ser, isso obriga-me a outro protesto!! Podiam-me ter chamado uma coisa muito mais gira: ‘Grilo Falante’, ‘Sininho’, ‘Fada Madrinha’… mas não, levei logo com o selo de ‘alter ego’!!
Ainda por cima, revendo os conceitos de psicologia, vou ter que cindir a minha identidade e ‘ser uma pessoa que não sou’… Ora, além de não me terem dito onde é que se aprende a fazer isso, espero que pelo menos se responsabilizem pelas consultas de psiquiatria de que certamente vou precisar após todo o processo de fragmentação…

Sejam muito bem-vindos!! O espectáculo vai começar!!


* Pessoal, vamos ter que convidar alguém de cor para fazer valer este princípio…