terça-feira, 5 de janeiro de 2010

moledo

O vento trouxe-me de volta à areia que me arranhava a alma. O mar, sobressaltado, empurrava-me para o abismo dos rochedos recortados pelo chicotear das ondas. O moinho debruçado na duna recortava a neblina como um velho sabedor que observa com um desinteresse aparente os enredos que o destino lhe descobre da manta de areia. Ao longe, adivinhava a Ínsua. Serena e soberana do rio e do mar, da montanha e da praia, das gentes, dos barcos e da memória. Adivinho as formas das gentes de veraneio, os vaidosos e as sereias, os homens das cartolas e as mulheres de alma carpida transvestidas a ouros e opulências. E vejo o deserto no mar. É inverno em Moledo. O céu coberto de nuvens carregadas que abraçam a paisagem do alto do monte de santa tecla até ao mar, parecem inofensivas e doces. As vagas rebentam num suave rufar que me entorpece os sentidos. Perde-se de vista o mar e perco-me do tempo porque aqui não existem essas tiranias dos tempos modernos. Beijo-te. Beijo-te porque Moledo é isso. Moledo é um beijo parado no tempo, quente e fugaz no verão e quente, eterno e terno no inverno. É um beijo sem pressa porque não tem hora marcada nem para onde ír, preso que está entre a montanha e o mar. É um beijo que dura o tempo de uma maré. É um beijo que volta. Sempre. É o mesmo beijo que te guardo quando voltares na volta da maré agora que partiste para os quotidianos que te amarram e sufocam. Aqui, eu vou-te sempre beijar. Um beijo livre e desinteressado. Moledo é isto.

1 comentário:

fly disse...

Se toda esta inspiração te saiu da alma...Parabéns...adorei

Como é lindo estar apaixonado...

Vale a pena

Kiss