Pegando no conceito de ‘mentalidade de atrapalhar’ de que se falava no post anterior, conto uma história que ouvi quando era ainda bem pequenina (… mais pequenina!) sobre a ‘mentalidade de criticar’...
Há muitos anos, numa aldeia de Trás-os-Montes, havia um velho moleiro que fazia a distribuição da farinha pelas povoações vizinhas.
Assim, uma vez por semana, o moleiro, ajudado pelo neto, carregava o burro com sacos de farinha, e lá seguiam para a venda.
Ao chegarem à aldeia mais próxima, passaram por um grupo de lavadeiras que lhes disse: ‘Oh Senhor, então o moço, com tão boas pernas, vai montado no burro, e o moleiro, já velho, é que vai a pé?’
Envergonhados com o comentário, decidiram não parar ali. Trocaram de posições e continuaram em direcção à aldeia seguinte.
Aproximavam-se do adro da igreja quando um grupo de homens entretidos nas damas, gritou: ‘Olhem para ali, se tem algum jeito… um homem daquela idade a cavalo do burro, e a criancinha é que vai pé!!’
Mais uma vez, surpreendidos pela observação, continuaram caminho sem fazer negócio, rumo à aldeia seguinte.
Desta vez, para evitar qualquer tipo de reparo, ambos viajavam a pé e o burro apenas transportava a carga.
Apregoavam o produto junto do café, quando ouviram os clientes que comiam tremoços na esplanada cochichar: ‘Grandes lorpas! Então vêm os dois a pé, e vai o burro folgado só com a farinha!’
O moleiro e o neto nem ouviram até ao fim. Montaram os dois o burro e seguiram o mais rapidamente para a última aldeia da freguesia.
Atravessavam junto ao pátio da escola primária quando algumas jovenzinhas que ali jogavam a macaca, recriminaram: ‘Estão a atentar contra os direitos dos animais! Pobre burro que tem que carregar com os sacos e, ainda por cima, também convosco!!’
Então, o velho e a criança, absolutamente baralhados com tudo quanto tinham ouvido, voltaram a casa, sem um único tostão!
A história é simples e popular, e ‘quem a conta, acrescenta-lhe sempre um ponto’. Através do tempo, conserva a moral, que saída da boca do povo, é tão majestosamente sábia como a que nasce da mão de qualquer Pessoa… Concluam a que muito bem entenderem! ;)