quinta-feira, 17 de maio de 2007

Não, Sr. Professor, não estamos na tv!!

É em dias como estes que me alegro de estar tão perto de concluir a licenciatura.
Iniciei há 2 semanas um dos principais blocos do 6º ano, que se compõe por 5 módulos.
Cheguei na 2ª feira pós-queima ao 5º piso do HSJ para iniciar um deles. Um serviço catita, pintado de fresco, com portas de correr e paredes estrategicamente decoradas com réplicas de quadros dos mais famosos pintores mundiais… Manifesta preferência por Vieira da Silva…
Prevenida quanto à exigência horária do Sr. Professor, lá estava eu por volta das 8h da manhã, encostada à parede, à espera da reunião de apresentação.
Começou por volta das 8:30, altura em que todo o meu grupo de trabalho, constituído por 7 elementos, se reuniu na biblioteca para receber as instruções. Assinámos folhas e mais folhas onde precisamente definimos o local em que cada um de nós estaria a cada momento, não fosse o Sr. Professor perder-nos o rasto. As câmaras de vigilância só cobrem o corredor central!...
Posto isto, começámos a trabalhar.
Avisados que era importante que o Sr. Professor ‘nos visse’ no Serviço por volta das 8h, reunimo-nos no corredor a partir dessa hora, à espera da visita ao Serviço que, até hoje, só aconteceu no 1º dia.
Esperávamos pelo refeitório ou pelos corredores até cerca das 9h-9:30h, altura em que começavam as restantes actividades para que nos tínhamos distribuído.
Hoje, cansada deste ritual inglório, quase que tinha decidido chegar mais tarde… Num enorme esforço matinal para me levantar meia-hora mais cedo que o habitual, sem disfarçar a má disposição, lá me despachei a tempo de cruzar as portas envidraçadas à hora marcada.
O Sr. Professor andava desde as 7:10h a tratar das burocracias que, na qualidade de Director de Serviço, lhe competem. Dirigiu-me um bom dia e encaminhou-me para o refeitório onde deveria aguardar pelos meus colegas e pela dita visita ao serviço.
Certa de que nenhum deles chegaria a tempo, mandei sms para que se apressassem… talvez isso nos poupasse ao sermão do costume.
Mas não, dando pela falta de dois dos elementos do grupo, começa o discurso sobre cumprimento do dever e dos maus hábitos que trazemos dos outros serviços, num tom de moralismo frouxo que me nauseou de cólera.
Tentei explicar-lhe que os 2 colegas já tinham realizado tudo quanto era suposto e que, estariam a elaborar o relatório para entregar amanhã. Informou-me que o nosso horário é das 8h-14h e que a faculdade não é funcionalismo público…
Ainda agora me custa perceber a lógica do seu raciocínio. Cerrei as mãos nos bolsos da bata para controlar a língua e não acabar como o meu amigo transmontano de que já vos falei uma altura, por motivos bem similares… Tenho muito respeito pelas pessoas, mas muito pouca paciência para amuos de quem se acha dono da razão. Pedir-lhe desculpa por algo de que não iria gostar de ouvir, para que me assinasse a caderneta de gestos que em consciência e de forma séria realizei, era algo que, decerto, não iria fazer…
Sobejam-me argumentos que destronam a concepção, que afinal é só dele, de que dirige um Serviço modelo. Primeiro, se conhecesse o regulamento da cadeira saberia que o horário da prática clínica é das 8:30h às 13h. Mais, se tivesse ideia do que é, ou deveria ser, o ensino universitário, não implementava um sistema de picar o ponto, e ser-lhe-ia indiferente fazermos o trabalho das 8h-14h ou das 14h-19h… Se ao menos nos ensinasse alguma coisa… são os próprios assistentes que compactuam com o facilitismo a que nos fomos habituando, e que sugerem que venhamos para casa estudar o Harrison…
Pois é Sr. Professor, a deixa do ‘funcionalismo público’ terá sido um acto falhado que tão bem representa a actividade do seu pequeno reino? Como é possível que a visita aos doentes do Seu Serviço dependa exclusivamente da Enfermeira Isabel, a única que realmente sabe o que se passa com cada um…
Nem os que consigo trabalham o levam assim tanto a sério… Vão-lhe batendo nas costas, encolhendo os ombros e acatando os seus caprichos na base do ‘não estou para me chatear’…

Pediu que chamássemos os colegas que faltavam, que vieram de casa, para os mandar embora em seguida depois de confirmar que, efectivamente, já tinham feito tudo quanto deviam…

Lamento não lhe ter dito tudo quanto gostaria… Mas também eu não estou para me chatear...

3 comentários:

KemoRessabe disse...

cabe-me a mim informar que estamos a falar de um director de serviço que passa visita aos doentes... e q vai apontando em toscas folhas as suas patologias... poucos fazem o mesmo. Quanto á pontualidade... ouvi algumas vezes "boa noite" quando chegava. Ria-me e desejava-lhe "boa noite, igualmente". Pessoalmente gostei bastante do serviço e ainda mais da parte cirúrgica. Um dia entrei as 8h30 e sai as 22h... Não é perfeito. Mas se fizermos um post por serviço estamos tramados. ;)

alter ego disse...

Ainda bem que, pelo menos aqui, tiveste uma boa experiência! Lamento não poder dizer o mesmo...

alter ego disse...

Depois de ter lido o teu comentário, comecei hoje o dia a tentar encontrar razões que o justifiquem (imagina só o quanto prezo a tua opinião...).

Não consegui... Na reunião de Serviço, a única em que vi os médicos distribuídos na mesa redonda de acordo com a hierarquia, meteu tantas vezes os pés pelas mãos quantas abriu a boca... Quase comédia...

Na visita ao Serviço vi-o comunicar a uma doente que vai ser amputada com a mesma ligeireza com que se diz que vai fazer um rx... Ali, no meio de um quarto com pelo menos mais 8 camas, com a comitiva toda atrás.A doente ficou num pranto, dizia preferir morrer a ficar sem a perna. Com a cena compadeceram-se enfermeiros e alunos... as palavras de conforto vieram da 'colega' da cama ao lado...

A cereja em cima do bolo!

Faltou-me ir com ele para o bloco, mas ainda que possa ser muito bom com o bisturi na mão, dificilmente me iria fazer mudar de opinião, que afinal, só reforcei...

Que isto não seja interpretado como uma implicação pessoal, pelo contrário, sempre me tratou com bastante simpatia e até sabia o meu nome! Ressabiei por sentir naquela pessoa a arrogância e a prepotência de um chefe autista e que se acha dono da razão. O respeito dos outros, impõem-no a puxar dos galões... Detesto isso!

O meu único desejo é não encontrar mais nenhum assim...